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Como lidar com pensamentos difíceis: ACT é um caminho para a aceitação

Atualizado: 1 de ago.


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Descobrir como lidar com os pensamentos difíceis tem se tornado um dos principais caminhos para uma vida mais plena. No percurso de descoberta, surgem diversas alternativas, nem todas recomendadas por profissionais da área. Um exemplo é a positividade tóxica, recorrente em vídeos trend das redes sociais, que deslegitima o sofrimento ao tentar impor otimismo a todo custo.


As redes sociais, embora tragam conforto e sensação de conexão, criam também uma falsa proximidade com quem está do outro lado da tela. Esse sentimento pode influenciar diretamente decisões da vida, sobretudo entre os mais jovens, que muitas vezes consomem esse conteúdo de forma indiscriminada e sem mediação de um profissional .


É nesse cenário que a ACT, Terapia de Aceitação e Compromisso, se destaca como uma alternativa embasada cientificamente. Pertencente à terceira onda das terapias comportamentais, também chamadas de terapias contextuais,  a ACT busca promover a flexibilidade cerebral por meio de três pilares: aceitação, atenção plena (mindfulness) e ação comprometida com valores.


Diferente das chamadas “terapias online motivacionais”, focadas em frases de efeito e promessas rápidas, a ACT não busca apagar ou substituir pensamentos difíceis, mas sim ensinar o indivíduo a mudar sua relação com esses pensamentos. A proposta é criar um plano de vida com base em valores pessoais, reconhecendo a dor como parte da experiência humana e abrindo espaço para agir com consciência, mesmo diante do sofrimento.


Enquanto a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental), representante da segunda geração das terapias comportamentais, atua modificando o conteúdo de pensamentos disfuncionais, a ACT trabalha sob o princípio do contextualismo funcional, valorizando o impacto do ambiente e do momento vivido sobre as emoções e condutas.


Importante destacar que as gerações das terapias comportamentais não se anulam entre si. Cada uma contribui com avanços técnicos e teóricos sobre o comportamento humano. A TCC, por exemplo, ainda é a abordagem mais recomendada para casos como depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Já a ACT tem mostrado resultados promissores em quadros de dores crônicas, recaídas e sofrimentos existenciais, oferecendo um impacto mais duradouro ao promover a plasticidade cerebral e a aceitação ativa da realidade.

Apesar da ACT ter ganhando o campo das discussões a partir dos anos 90’s, foi a partir do ano 2010 que a terapia de fato ganhou seu espaço, sendo possível perceber alguns dos seus pontos de discussão, inclusive, em filmes como “Questão de tempo”, obra de Richard Curtis, que trabalha “contato com o momento presente, valores e self como contexto”, como pontuou a psicóloga clínica e mestranda do Ppgps, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFMT, Maria Kovaleski. A abordagem da ACT em obras ficcionais não foi uma exceção nesse caso, existem inúmeras pesquisas científicas que trabalham a temática analisando obras ficcionais. No ano de 2015 foi publicado na Revista brasileira de terapia comportamental um artigo de Jhessica Monteiro e Nazaré Pereira, onde as autoras analisaram o filme Frozen e Parcialmente Nublado. Na pesquisa foi percebido que obras de ficção podem abordar o tema e contribuir com as abordagens da ACT, “há que se abandonar as tentativas de controle do sofrimento; aceitar  o  que  não  se  pode  mudar,  como  a  ocorrência  dos eventos  privados/encobertos  aversivos  e  comprometer-se  em  ações  direcionadas  aos  valores.” Jhessica Monteiro e Nazaré Pereira (2015).


Apesar da relevância da abordagem, a ACT ainda não possui seu espaço na grade curricular da Universidade Federal de Mato Grosso, mas existe o esforço das ligas e colegiado para introduzir os alunos e propiciar o primeiro contato com a terapia. Kovaleski conta que seu primeiro contato com a abordagem aconteceu em um curso e que a experiência foi bastante positiva. “Foi um momento que consegui pensar em formas diferentes de intervenção, e também sobre o meu papel enquanto psicoterapeuta. Esse contato me influenciou profundamente e ainda utilizo a  ACT como abordagem de intervenção na minha pesquisa de mestrado”, afirmou ela. 


Um dos pilares para a abordagem da ACT nos pacientes é o respeito pelos aspectos específicos da identidade de cada pessoa. É necessário considerar que, no caso de crianças e adolescentes, alguns processos ainda estão em desenvolvimento, isso deve ser tratado de forma única e respeitosa. Kovaleski afirma que a abordagem da ACT não enfrenta uma barreira etária e continua afirmando que a terapia pode ser usada em pessoas de diferentes faixas etárias, claro, respeitando suas individualidades. “Quando utilizamos a ACT como base teórico-aplicada com crianças e adolescentes, é necessário considerar que alguns processos ainda estão em desenvolvimento, o que exige adaptação nas intervenções. Ainda assim, a construção de uma nova forma de nos relacionarmos com a experiência de viver e de construir uma vida com valor não tem idade”


 
 
 

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